Declaração Mamirauá: Encontro histórico em Tefé-AM, Brasil, reúne instituições de ciência, tecnologia e conservação para transformar o monitoramento da biodiversidade na Amazônia
Publicado em: 19 de setembro de 2025
O encontro levou ao centro da Amazônia discussões estratégicas de alcance global sobre monitoramento da biodiversidade, tecnologia e conservação e resultou na construção da Declaração de Mamirauá, documento histórico que une instituições de diversos setores da sociedade em prol do desenvolvimento e uso de tecnologias disruptivas para o monitoramento da biodiversidade e proteção da Amazônia e de seu povos.
Cartaz do evento AmazonIA - Encontro Mamirauá. Arte: Instituto Mamirauá
O Encontro
De 8 a 10 de setembro, o Instituto Mamirauá sediou em Tefé (AM) um encontro seminal: o AmazonIA – Encontro Mamirauá, que pela primeira vez reuniu, no interior da Amazônia, cientistas de renome internacional, representantes do setor público, organizações de conservação e tecnologia, e filantropias de alcance global, para discutir a integração de iniciativas e tecnologias disruptivas para o monitoramento da biodiversidade e proteção da Amazônia e de seus povos.
Promovido pelo Instituto Mamirauá em parceria com a Universitat Politècnica de Catalunya, BarcelonaTech (UPC), e com apoio da Fundação Gordon e Betty Moore, Imazon e WWF, o evento reuniu representantes de mais de 38 instituições e quase 100 participantes em sessões plenárias, demonstrações tecnológicas e uma feira de inovação que mostrou o estado da arte em monitoramento da biodiversidade.
O evento reuniu representantes de mais de 38 instituições e quase 100 participantes em Tefé, Amazonas, Brasil. Foto: Tácio Melo
A Declaração de Mamirauá
A Declaração de Mamirauá constitui um compromisso conjunto para promover o desenvolvimento, implementação e manutenção de tecnologias para monitorar a biodiversidade na Amazônia. Pela primeira vez na história instituições de alta relevância dos países amazônicos concordaram em iniciar a construção de um movimento colaborativo para implementar ações coordenadas para monitorar a biodiversidade e conservar a floresta amazônica.
Realizada às vésperas da COP30, que ocorrerá em novembro de 2025 em Belém (PA), a Declaração de Mamirauá representa um marco de cooperação internacional necessário para o enfrentamento dos desafios climáticos e ambientais da Amazônia. Ao unir ciência, inovação e tecnologia de ponta, a Declaração de Mamirauá se apresenta como um marco histórico no caminho para uma conservação integrada e de longo prazo, com a expectativa de gerar avanços concretos na conservação da Amazônia, de seus povos e de sua biodiversidade.
O Dr. Michel André, professor da Universidade Politécnica da Catalunha, embaixador do Instituto Mamirauá, e co-idealizador do evento, aponta que é preciso atender às demandas da sociedade sobre qual o estado de conservação que se encontra a Amazônia. “Com esta declaração histórica (...) pretendemos dar uma resposta rápida às exigências de conservação da Amazônia”.
A exemplo do Projeto Providence, Michel André destaca que é uma iniciativa de monitoramento que necessita ser ampliada para diversas regiões da Amazônia. “Com o Providence, nos demos conta que esse monitoramento não poderia ocorrer somente em uma região da Amazônia, que teríamos que ampliar. Então o que está sendo feito agora, a proposta de uma declaração neste evento, é fruto de uma semente que foi plantada pelo Providence, para podermos usar a tecnologia desenvolvida para o bem da Amazônia”, finaliza Michel André.
Módulos do Projeto Providence instalados na Reserva Mamirauá. Foto: Guilherme Alvarenga
Um dos pontos centrais desta proposta é a superação da lacuna entre pesquisa e implementação. Muitos centros de pesquisa e inovação ainda estão distantes das demandas práticas enfrentadas por técnicos e tomadores de decisão, o que dificulta a incorporação de tecnologias. Por outro lado, gestores também precisam se aproximar mais da pesquisa aplicada. A Declaração Mamirauá pretende reduzir essas barreiras, aproximando as diferentes partes interessadas na construção de soluções.
“Buscamos a criação de um movimento que mobilizasse todo esse poderio de instituições que estão aqui para um movimento mais amplo de promoção do desenvolvimento tecnológico e integração das iniciativas de monitoramento da biodiversidade, em um movimento comum que a gente acredita que seja muito mais forte do que uma instituição ou outra tentar fazer este desenvolvimento”, afirmou Dr. Emiliano Ramalho, Diretor Técnico-Científico do Instituto Mamirauá e co-idealizador do evento.
“Neste encontro nós discutimos não só como desenvolver essa iniciativa a partir de agora, integrada aos protocolos de monitoramento já existentes, envolvendo as comunidades tradicionais e os povos indígenas, mas também em construir a Declaração de Mamirauá, um documento que nos ajude a colocar no papel, nas redes e nas mídias, que estamos juntos e de acordo que esse movimento de tecnologia, esse movimento de monitoramento da biodiversidade, é fundamental para a conservação da Amazônia e para regulação do clima global”, conclui Emiliano Ramalho.
Representantes de instituições de países amazônicos iniciaram a construção de um movimento colaborativo para implementar ações coordenadas para monitorar a biodiversidade e conservar a floresta amazônica. Foto: Tácio Melo.
Representantes de instituições filantrópicas, como a Fundação Gordon e Betty Moore, Fundação Bezos, Instituto Alana e Instituto Serrapilheira, discutiram a importância de criar estratégias para financiar e garantir a sustentabilidade do monitoramento em larga escala da biodiversidade na Amazônia usando tecnologias. Para Pedro Hartung, CEO da Fundação Alana, o encontro foi fundamental e estratégico. “Monitorar a biodiversidade é possibilitar que tenhamos informações em tempo real sobre a saúde desses ecossistemas e do bioma amazônico. Isso é fundamental para avançarmos nas agendas de monitoramento, de conservação e de restauração, de sociobioeconomia, também de ciência, pesquisa, inovação e desenvolvimento e também pela questão dos serviços, os benefícios ambientais que esse bioma representa para todos nós, no Brasil, independente do estado, e também no mundo”.
Francisco Oliveira, Oficial de Programa da Iniciativa Andes-Amazônia na Fundação Moore, aponta que precisamos ter um olhar atento para a biodiversidade como um indicador que afeta a vida de todas as pessoas, à semelhança de como analisamos os índices econômicos. “Se está aumentando a inflação, sabemos que irá aumentar o preço da comida que vamos comer no dia seguinte. Olhando a biodiversidade, olhando o que está acontecendo na Amazônia, [entendemos como] isso afeta não só aqueles que estão aqui localmente, mas também em outros lugares. Se a gente começa a perder floresta, ela começa a ficar mais seca, aquela água não vai chegar em outras regiões do Brasil e de outros países da América do Sul. E por conta disso, você tem uma menor produção daquilo que vamos consumir no dia seguinte em outros lugares. E isso vai levar ao índice de economia que vai mostrar a inflação mais alta porque produziu menos e o preço do produto vai ficar mais caro”.
Os participantes do evento tiveram a oportunidade de visitar a Reserva Mamirauá, unidade de conservação situada entre os rios Solimões, Japurá e Auati-Paraná, a maior reserva em ecossistema de várzea na Amazônia brasileira. Dentre os presentes, Tom Taylor, CEO do Fundo Bezos para a Terra, ressaltou que a Reserva Mamirauá tem uma história muito interessante. “Cientistas vieram fazer pesquisas sobre uma espécie particular e levou não somente à proteção da espécie, mas à proteção da comunidade, da reserva. E isso se expandiu para fora do Brasil e boa parte da América do Sul. O Fundo Bezos para a Terra tem interesse em apoiar a partir de avanços que estamos vendo em tecnologia, como na coleta de dados com imagem e bioacústica”.
Onça-pintada (Panthera onca) registrada com armadilha fotográfica na Reserva Mamirauá. Foto: Grupo de Pesquisa Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá
Iniciativa AmazonIA
AmazonIA é uma iniciativa ambiciosa e colaborativa que reúne organizações de conservação, institutos de pesquisa, empresas de tecnologia, agências nacionais, povos indígenas e comunidades locais.
Seu objetivo é transformar o monitoramento da biodiversidade na floresta amazônica por meio da integração de ferramentas de ponta — como imagens de satélite, sensores hiperespectrais e LiDAR, eDNA, bioacústica, armadilhas fotográficas e inteligência artificial — em uma estratégia ousada e unificada. Essas tecnologias permitem coletar dados precisos, escaláveis e de baixo custo sobre biodiversidade e saúde dos ecossistemas, apoiando tanto a conservação local quanto os esforços de restauração em escala de bioma.
Amy Rosenthal, Diretora Global Sênior de Iniciativas de Conservação da Planet, aponta que a Planet tem orgulho em ser parte da Iniciativa AmazonIA. "Isso significa fornecer conhecimento sobre a biodiversidade para decisões que podem ser tomadas trabalhando com institutos nacionais de pesquisa, estações de pesquisa biológica, organizações de diversas áreas, bem como empresas de tecnologia e cientistas de dados". Sobre o potencial da Iniciativa AmazonIA, ela destaca que é possível entender de forma integrada o que está acontecendo com o dossel da floresta e abaixo dele, com as muitas espécies que habitam esses ecossistemas. “Podemos usar essas informações para tomar melhores decisões, para a restauração, para a conservação, para meios de vida sustentáveis, para apoiar comunidades e tomadores de decisão em toda a Amazônia. Os desafios que enfrentamos são muitos, mas são superáveis ao mesmo tempo. Trabalhando juntos, podemos trazer o melhor da tecnologia mais recente”, finaliza.
O futuro da Amazônia depende da nossa capacidade de avançarmos juntos, unidos para além das fronteiras nacionais. Os nove países amazônicos precisam construir uma cooperação científica robusta e compartilhada, capaz de integrar disciplinas e tecnologias. Mas esse caminho não pode ser concebido sem a participação ativa das comunidades tradicionais e indígenas, guardiãs ancestrais da floresta e parceiras essenciais de um futuro sustentável.
Instituições representadas no evento AmazonIA - Encontro Mamirauá em Tefé, Amazonas, Brasil
Assessoria de Comunicação do Instituto Mamirauá
ascom@mamiraua.org.br / +55 (97) 98119.8352
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